Quando o tempo passa, o corpo responde
A relação entre a idade e a fertilidade feminina é uma das maiores preocupações de quem deseja engravidar mais tarde. Embora esse seja um assunto cercado de julgamentos e tabus, a verdade é que a ciência tem muito a dizer — e também a oferecer — para quem quer tomar decisões conscientes e seguras.


Muitas mulheres hoje em dia têm o desejo de ser mães, mas preferem aguardar o momento certo — seja por prioridades profissionais, estabilidade emocional, relacionamentos ou apenas por não sentirem que “a hora chegou”. Mas junto com essa liberdade de escolha, surge uma dúvida recorrente: o tempo está do meu lado?
Neste artigo, vamos abordar de forma clara, acolhedora e informativa como a fertilidade feminina se comporta ao longo da vida, o que muda com o tempo e o que é possível fazer para preservar o sonho da maternidade, mesmo que ela não esteja nos planos para agora.

Por que a fertilidade diminui com a idade? (versão aprofundada)
A fertilidade feminina está diretamente ligada à saúde dos ovários e à qualidade dos óvulos, que são limitados e não se renovam ao longo da vida. Desde o nascimento, uma mulher já possui um número determinado de óvulos — cerca de 1 a 2 milhões. Esse número cai para cerca de 300 a 400 mil na puberdade, e apenas 300 a 400 deles serão ovulados ao longo da vida reprodutiva.
Com o avanço da idade, ocorrem mudanças naturais e fisiológicas que afetam o sistema reprodutor de forma gradual, porém significativa. Abaixo, você encontra os principais fatores que explicam essa queda da fertilidade ao longo dos anos:
🔸 1. Redução da reserva ovariana
A reserva ovariana é a quantidade de óvulos ainda disponíveis nos ovários. Essa reserva vai diminuindo progressivamente com o passar dos anos. Após os 35 anos, essa queda se torna mais acentuada, e aos 40 anos muitas mulheres já apresentam uma reserva bastante reduzida, dificultando a concepção natural.
🔸 2. Piora na qualidade dos óvulos
Além da quantidade, a qualidade dos óvulos também diminui com a idade. Isso significa que os óvulos mais velhos têm maior probabilidade de apresentar alterações genéticas, o que reduz as chances de fecundação, aumenta o risco de aborto espontâneo e eleva a probabilidade de anomalias cromossômicas, como a Síndrome de Down.
🔸 3. Alterações hormonais
Com o passar dos anos, o corpo começa a produzir menos hormônios essenciais para o ciclo reprodutivo, como estrógeno, progesterona e hormônio folículo estimulante (FSH). Essas alterações podem afetar a ovulação, tornando-a irregular ou ausente, o que dificulta o processo de concepção.
🔸 4. Envelhecimento do ambiente uterino
O endométrio, camada interna do útero onde o embrião se implanta, também sofre alterações com o tempo. Com o avanço da idade, ele pode não oferecer o ambiente ideal para a implantação embrionária, reduzindo as chances de uma gravidez bem-sucedida, mesmo com óvulos saudáveis.
🔸 5. Maior risco de doenças ginecológicas
Condições como endometriose, miomas uterinos, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e doenças inflamatórias pélvicas são mais comuns em mulheres com mais de 30 anos e também podem interferir negativamente na fertilidade. Algumas dessas doenças afetam a ovulação, a anatomia das trompas ou o funcionamento do útero.
🔸 6. Aumento do estresse oxidativo
Com o tempo, os tecidos do corpo estão mais sujeitos aos efeitos do estresse oxidativo — um processo que danifica as células, inclusive os óvulos. Esse envelhecimento celular natural prejudica o desempenho reprodutivo e reduz as chances de sucesso da fecundação.
Criopreservação: O que é e quando considerar? (versão aprofundada)
A criopreservação de óvulos é uma das tecnologias mais inovadoras e promissoras da medicina reprodutiva moderna. Trata-se de um procedimento que permite congelar e armazenar os óvulos da mulher em temperaturas extremamente baixas, mantendo sua qualidade para uso futuro — mesmo que os anos passem e a fertilidade natural diminua.
Como funciona a criopreservação de óvulos?
O processo começa com uma estimulação hormonal controlada para que os ovários produzam mais óvulos do que em um ciclo natural. Essa etapa dura cerca de 10 a 12 dias e é acompanhada por ultrassons e exames de sangue.
Quando os óvulos atingem o tamanho ideal, é feita uma coleta (aspiração folicular) por meio de um procedimento rápido e minimamente invasivo. Os óvulos maduros são então congelados por um método chamado vitrificação, que evita a formação de cristais de gelo e preserva sua estrutura celular com segurança.
Esses óvulos podem ficar armazenados por tempo indeterminado — e, quando a mulher desejar engravidar, eles são descongelados, fertilizados em laboratório (fertilização in vitro) e transferidos para o útero.
Quando considerar a criopreservação?
Embora qualquer mulher em idade fértil possa recorrer à criopreservação, existem situações em que essa estratégia é especialmente recomendada:
✔️ 1. Mulheres com mais de 30 anos sem planos de engravidar no curto prazo
A partir dos 30 anos — especialmente depois dos 35 — a fertilidade começa a cair de forma mais acentuada. Se você ainda não quer ser mãe, mas pensa na possibilidade para o futuro, congelar seus óvulos agora pode aumentar suas chances de uma gravidez saudável mais tarde, com óvulos mais jovens e de melhor qualidade.
✔️ 2. Diagnóstico de doenças que afetam a fertilidade
Mulheres diagnosticadas com doenças como endometriose severa, miomas uterinos ou insuficiência ovariana precoce podem preservar sua fertilidade antes que a condição afete drasticamente os ovários. A criopreservação também é indicada para mulheres que precisarão passar por tratamentos médicos agressivos — como quimioterapia ou radioterapia — que podem comprometer a função ovariana.
✔️ 3. Planejamento profissional ou pessoal
Muitas mulheres escolhem postergar a maternidade por motivos de carreira, viagens, estudos ou estabilidade emocional. A criopreservação é uma ferramenta que oferece liberdade de escolha, sem que a mulher precise correr contra o tempo biológico.
✔️ 4. Mulheres trans e preservação da fertilidade antes da transição
Mulheres trans que desejam iniciar tratamento hormonal ou realizar cirurgia de redesignação sexual podem recorrer à criopreservação como forma de manter a possibilidade de ter filhos biológicos no futuro.
📌 O que considerar antes de congelar óvulos?
Embora o procedimento seja seguro e já amplamente realizado, é importante considerar:
- Custo financeiro: O congelamento de óvulos e o armazenamento anual têm um custo que pode ser elevado, embora clínicas e planos de saúde estejam cada vez mais oferecendo condições facilitadas.
- Taxa de sucesso: Quanto mais jovem for a mulher no momento do congelamento, maiores são as chances de sucesso futuro com os óvulos armazenados.
- Acompanhamento médico: É fundamental contar com o apoio de um ginecologista ou especialista em reprodução humana para avaliar a reserva ovariana, fazer exames hormonais e orientar todo o processo.
❤️ Opções para quem enfrenta dificuldades com a fertilidade
Além da criopreservação, existem outras formas de realizar o sonho da maternidade mesmo com a fertilidade reduzida:
- Fertilização In Vitro (FIV)
- Ovo doação (recebimento de óvulos doados)
- Maternidade solo com banco de sêmen
- Adoção
A medicina reprodutiva avança cada vez mais, oferecendo esperança e possibilidades para todas as fases da vida reprodutiva.
Informação é liberdade para escolher seu caminho
Saber como o tempo afeta a fertilidade feminina é uma forma poderosa de assumir o controle do próprio corpo e planejar o futuro com consciência. Se você deseja ser mãe um dia, mas esse não é o momento, saiba que há sim caminhos viáveis para manter esse sonho vivo.
A maternidade não precisa acontecer no tempo que a sociedade impõe. Ela deve acontecer quando você se sentir pronta — emocional, física e mentalmente. E o mais importante: com conhecimento e suporte adequado, é possível fazer essa escolha de forma segura.
✨ Cuide do seu presente. Planeje o seu futuro. E não deixe que o tempo dite o que só você pode decidir.
(Fertilidade e idade, congelamento de óvulos, como preservar a fertilidade)